sábado, 22 de outubro de 2011

MEXAM-SE: SINGULARIDADES E POTÊNCIA

 
 
(publicado no Jornal da Cidade, em 23 de outubro de 2011)

Prof. Francisco Diemerson
 
Os debates contemporâneos sobre sexualidade e gênero, focando, especialmente, as questões referentes ao respeito às diferenças, em suas variadas dimensões, tornaram-se marcantes e sensíveis dentro dos movimentos e instituições sociais.

Na busca de uma posição crítica entre o real e o ideal, têm se debatido mecanismos para que as abordagens sobre estes temas atinjam de maneira sensível a sociedade em seu cotidiano. Não se trata de impor um discurso, uma convergência, mas encontrar, dentro das divergências, os limites para que se estabeleçam relações saudáveis onde haja respeito, e isso na essência máxima da palavra.

Fundado em 24 de outubro do ano passado, o Grupo Mexam-se tem se guiado por estas discussões ao longo do seu primeiro ano de funcionamento. Sem prender-se às exigências do formalismo institucional, porém, desde o início buscando definir uma linha mestra de trabalho focal, este movimento fixou-se na postura de seus membros justamente pela possibilidade de entender e dialogar diante das divergências.

Isto por que há, na formação do Mexam-Se uma rotina que é ousada e provocante: o constante incentivo para se buscar, dentro de um discurso primaz convergente (o combate à homofobia) uma série de variáveis da divergência.

Impossível ser o contrário em um ajuntamento de singularidades potentes. O que faz este grupo informal, que se reúne quinzenalmente nas relvas do Parque da Sementeira, em plena tarde de domingo, haja sol ou chuva, e que mantém uma polêmica e movimentada rede de discussão via internet, manter uma existência por um ano é justamente esta marca especial de não exigir um padrão ou um modelo e de não fixar sua liderança em um controle.

Há uma organização interna, que serve para definir metas de trabalho, harmonizar as discussões, provocar as ações e colorir os momentos de crise e apatia que se instauram diante das ameaças e noticias que se vêem nos noticiários.

O Mexam-se provocou uma risco importante dentro de um cenário tabular dos movimentos relacionados à gênero e sexualidade em Sergipe. Provou que se pode causar micro-revoluções que se reproduzam e gerem ondas de movimentos discursivos em vários campos de onde provem seus membros.

Creio ainda que um das marcas que fizerem este primeiro ano do Mexam-se estar tão gravado na memória dos seus membros é esta especial agregação de experiências, de troca de saberes, um intenso e profícuo processo de aprendência e ensinância para se combater, se enfrentar com qualidade e potência estes movimentos que se insurgem contra à diversidade e ao respeito.

Em um ano, o movimento conseguiu sua primeira meta: fixou-se como parte do cotidiano de seus membros, sem exigir, sem cobrar e sem torna-se uma obrigação rotineira. Vejo isso como parte de sua singularidade. Somos tradicionalmente avessos à rotina e ao mesmo tempo não valorizamos manifestações que se desprendam do obrigatório.

Juntam-se agora à responsabilidade de prosseguir para novos anos o importante momento de discutir quais serão os próximos passos para um desenvolvimento institucional, quais raízes devem ser aprofundadas, quais sementes foram plantadas e quais territórios devem ser vivenciados.

Não trata-se de, agora que há uma primitiva solidez, criar uma máquina burocrática ou prescrições institucionais, mas avaliar quais discursos o Mexam-se tem à oferecer no cenário do movimento LGBTT em Sergipe, qual sua posição neste complexo tabuleiro e quais vozes poderão ser levantadas.

O movimento, nascido da vontade angustiante de alguns poucos, tornou-se porto seguro para outros, precisa agora ter uma cara que se mostre no enfrentamento, no embate. A simples idéia do encontro domingueiro não pode ser tornar um imperativo limitador, mas é preciso que haja uma decisão de ser membro, e assumir as ações desta escolha, ou ficar-se como um observador inativo do dia a dia.

O alerta que fica é que, enquanto ficarmos como observadores silenciosos, há um movimento fanático, raivoso e fascista, instalado e se ampliando, em escolas, empresas, instituições e famílias, com um discurso vazio para se criar e revigorar modelos de comportamento e de padrões, na busca de um cidadão ideal, na mesma lógica de uma normalidade necessária.

Do outro lado, há uma multidão de pessoas, cidadãos com direitos plenos, que se tornam alvos para desrespeitos e violência, limitados à uma política ridícula de guetos e escuros, proibidos de manifestarem seus afetos e amendontrados pelo radicalismo de grupos dogmáticos que se instauram como guardiões de uma verdade.

Aqueles que fazem o Mexam-se, neste momento, vivenciam um momento de celebração pelo seu primeiro ano, que força a responsabilidade de ser refletir qual nosso papel dentro deste complexo jogo de forças que a cada dia torna-se mais denso e radical.

De certa forma, é hora de avançar para fora dos portões seguros da Sementeira e mostrar cores e voz. Com a singularidade e potência marcantes dos que criaram e dão vida ao Grupo Mexam-se.

(Professor da Faculdade Pio Décimo. Pesquisador do CNPq. Mestrando em Educação pela UNIT. Membro da Arcádia Literária e do Grupo Mexam-se)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Confundidos com gays, dois homens são agredidos na Avenida Paulista


Na madrugada do ultimo sábado (27) dois homens foram vítimas de agressão na Avenida Paulista com a Rua Augusta. Os rapazes agredidos acreditam que a violência teve motivação homofóbica, por terem sido confundidos com gays. A Polícia Civil não descarta a hipótese e vai investigar. Este é o quinto caso de agressão na região da Paulista motivado por intolerância.

Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo, os arquitetos Bruno Chiarioni Thomé, 33, e Rafael Ramos, 30, caminhavam pela Rua Augusta em direção à Paulista após saírem de uma boate. O ataque aconteceu próximo da estação Consolação do metrô. Thomé disse ao jornal que a primeira coisa que sentiu foi uma pedrada, em seguida foram questionar o que estava acontecendo e começaram a ser agredidos pro um grupo de seis pessoas.

Depois da pedrada, os dois homens começaram a apanhar com uma luminária de ferro. Thomé disse ao Estadão que acredita na hipótese de a agressão ter sido motivada por homofobia. "Eles achavam que eu e o meu amigo éramos um casal, quando chegamos até eles disseram 'sai daqui, seu veadinho'. Não somos gays e não tenho nada contra homossexuais, pelo contrário, isso tudo está se tornando um absurdo", disse Thomé.

Bruno e Rafael disseram que nada foi roubado e que o grupo não tinha características fortes de tribos, por exemplo, skinheads ou grupo do gênero. Os rapazes disseram que na hora da agressão os seguranças do metrô não seguraram os agressores. Posteriormente, foram levados para o Hospital das Clínicas. A ocorrência foi registrada no 8 DP (Belenzinho).

A região da Avenida Paulista, com este caso, registra o quinto caso de agressão motivado por homofobia. Em novembro de 2010, três rapazes foram agredidos com lâmpadas fluorescentes; em dezembro duas garotas foram agredidas após trocarem beijos; dois gays foram agredidos por um homem com soco inglês e, em janeiro, um jovem de 27 anos levou uma garrafada no olho direito.

"Um país decente não discrimina seus cidadãos", diz ministra Ellen Gracie


A juíza e ministra Ellen Gracie Northfleet, 63, entregou há três semanas o seu pedido de aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF). Gracie foi a primeira mulher a ser indicada para ocupar uma cadeira no STF e também fez parte da votação pela aprovação da união estável homoafetiva, onde os ministros, por unanimidade, concederam os direitos de união aos casais homossexuais.
Ellen Gracie é a entrevistada desta semana nas páginas amarelas da revista Veja. Na conversa, a juíza comenta sobre o seu voto favorável às uniões estáveis entre casais gays.
"O Brasil, desde o pórtico de sua Constituição, diz que não admite discriminação. Então não há motivo para que cidadãos nossos sejam tratados de maneira diferente por causa de sua orientação sexual. Assim como nós não admitimos que eles fossem tratados diversamente por questões de cor ou de religião, também a orientação sexual não deve ser um fator impeditivo a que eles gozem de isonomia em relação aos outros cidadãos. Essa é a base da decisão", declarou a ministra.
Em seguida, Ellen Gracie diz que "um país decente não discrimina entre os seus cidadãos. Meu voto foi no sentido de que todos os direitos correspondentes a união estável entre pessoas de sexo oposto sejam estendidos aos homossexuais, inclusive o direito de adoção. Mas as discussões sobre os direitos dos homossexuais ainda não terminaram no Supremo, elas certamente voltarão ao plenário", afirmou Ellen Gracie.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

"Foi por causa do meu cabelo", diz jovem gay vítima de agressão homofóbica em Santo André-SP



Na madrugada da última sexta-feira (19), Denilson Alves Batista, 23, estava com dois amigos em um bar no Segundo Distrito, bairro de Santo André, tomando cerveja. Por volta das 3h resolveram ir embora. Como era tarde, Denilson resolveu acompanhar um dos amigos até metade do caminho.

Quando caminhavam em direção à Praça do Bocha, dois indivíduos passaram de moto e um deles gritou: "loiro viado do caralho". Neste momento, relata Denilson, o seu amigo revidou os xingamentos.

Ao chegarem perto do local, os garotos encontraram com os indivíduos que estavam numa moto. Neste momento, um deles agrediu Denilson na cabeça com um capacete. "Fiquei desnorteado, quando consegui dar por mim, enfiei um soco na boca do cara, que perdeu um dente. Depois disso, os outros caras vieram pra cima e me agrediram até desmaiar", contou.

Assustado, o amigo de Denilson fugiu. Por conta de chutes que levou na cara, Batista teve o queixo rasgado e levou cinco pontos. Denilson contou à reportagem que foi socorrido por causa de uma mulher que passava na praça e o viu na calçada desmaiado. A Polícia Militar encaminhou o jovem para o Hospital Bangu, onde enfrentaria mais uma situação homofóbica.

"Quando os PMs me levaram pra enfermaria, um deles falou: 'encontramos este viado jogado no chão'. Eu disse que não era bem assim, que eu tinha sido vítima de agressão homofóbica e pedi para que o policial saísse da enfermaria para eu levar pontos", afirmou Denilson. Ao pedir para o PM sair, houve um início de confusão e Denilson foi levado para a delegacia sem curativo no queixo, que estava aberto.

Na delegacia, Denilson contou que foi tratado com descaso. "O delegado nem quis tomar o meu depoimento, só levou em conta o que os policiais falaram. Também não quis registrar como agressão homofóbica, apenas como uma briga comum", denunciou o jovem.

Denilson Alves é presidente da secretaria LGBT da União Nacional dos Estudantes (UNE) e revelou que estar do outro lado foi "horrível". "A gente escuta histórias e nunca acha que vai acontecer com a gente", constatou. Além das dores que ainda sente pelo corpo, o jovem não se conforma que a agressão tenha sido motivada pelo cabelo.

"O que mais me revolta é que tudo começou por causa do meu cabelo (loiro platinado e raspado nas laterais). Neste momento estou com mais medo e estou me privando de certos horários. Estou me limitando e só vou me produzir mais quando for a São Paulo. Estes dias estou andando de touca", lamentou Denilson.

"Estou com medo de reencontrá-los [os agressores], até porque agredi um deles e este pode estar com raiva de mim", afirmou Denilson, que, apesar da situação, diz que não vai abandonar a política e que tal acontecimento o fortalece para continuar no ativismo.

Duas travestis são encontradas mortas em apartamento de São Paulo

Duas travestis foram encontradas mortas em um apartamento localizado na rua Oscar Freire, no Jardim Paulista, em São Paulo, na manhã desta terça-feira (23). A faxineira que trabalha no local encontrou os corpos nesta manhã de acordo com os policiais do 14º Distrito Policial de Pinheiros, na Zona Oeste.

A faxineira, que possui a chave do apartamento, informou à polícia que havia uma terceira pessoa no local na noite desta segunda (22), quando ela deixou o apartamento.

Os policiais chegaram no imóvel por volta das 11h desta terça para investigar o caso.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Vídeo do YouTube joga mais lenha na fogueira do beijo gay na TV; assista


Continua a guerra entre a intolerância e a censura televisiva e a comunidade LGBT - esta, simbolizada pelo tão esperado beijo gay da ficção. Um novo round foi vencido pelo povo gay. Desta vez, trata-se de um vídeo que acaba de surgir no YouTube.

Batizado de "Beijo Gay na Novela", o vídeo mostra um casal de homens que está em crise justamente por causa do beijo. Com um diálogo que beira a metalinguagem, ao falar sobre classificação indicativa, horários e afins, o casal discute a questão do beijo gay na ficção da TV.

O vídeo é estrelado por Marco Antônio Cals e Rafael Puetter, com roteiro e direção deste último. Ao final, a mensagem anti-homofobia e anticensura aparece às claras, para não deixar dúvidas quanto à categoria ativista e militante do vídeo.



 Fazendo uma pesquisa encontrei esse vídeo da extinta TV Manchete que já tomava a dianteira em 1990 na série "Mãe de Santo", em uma cena muito bonita e delicada.


 E esse outro de 2010 no programa Qual É O Seu Talento (QST?) do SBT